30 de out. de 2008

A quinta fase da Lua (parte 1)




A face negra da Lua


Que impressão causa ao homem o mistério das coisas?
O desconforto da curiosidade, a busca pela revelação?
A parte obscura da Lua me incomoda
Mas não me diz respeito
Que diferença faz?
Tenho quase certeza de que ela não se pergunta
Por que eu não resplandeço para ela me admirar
Mas a verdade é que tenho de desvendar
Esta folha em branco me diz muito mais coisas
Do que a obscuridade da face negra da Lua
Que nem sempre é negra
Mas hoje resolveu ser
Sou movido pela invisível motriz lunar
Por sua força, a maré esvazia cheia
Não há lado negro na Lua
Mas ela é branca porque tem um lado negro
Você só é bonita porque a outra é feia
Sem contraste não há beleza, não há divisão,
Não há artigo definido, não há ser, não há...
Que maldição seria o dia, não houvesse noite!
O que eu faria do seu amor, se não me sentisse só?
Eu o guardaria com carinho
No vento que passou
E nem mesmo respirei
Agora só estou certo porque tive dúvida
Mas, olhe, veja, não é monótona essa certeza?
Existe um impulso na onda da maré morna
Que quebra a calmaria da vida
E esse vetor é a morte
Observou?
Outro contraste!
Não há eternidade sem morte
Sem o homem não há Deus
Jesus está certo: o Diabo ou a cruz
Não posso ser os dois
A balança cosmogônica exige equilíbrio
Enquanto uns fazem filhos, outros matam
Do trapézio da vida, cuspo em tudo isso
E que o Diabo pegue a cruz e enfie!
.

4 comentários:

Graça Pires disse...

"Esta folha em branco me diz muito mais coisas
Do que a obscuridade da face negra da Lua"
Um poema cheio de interrogações e paradoxos. Como se procurasses a fisionomia da lua nova.
Um abraço.

Regina Graça disse...

Metade Sul, metade sorte... O equilíbrio cósmico ainda pesa mais para um lado, mas para isso há a Lua e as suas múltiplas faces!

Um abraço.

Josely Bittencourt disse...

Ah essa balança cosmoAgônica! Todos de lua, manter a face ñ é nada fácil, ou é? rsrs

Luizzzz! Muito bom.

Beijoca

livia soares disse...

Bela embalagem para as tuas inquietações... que, de certo modo, também são nossas.
Um abraço.