1 de out. de 2009

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Título para livros que une versos para elos


Chuvisco sob

Amor decibel

Ménage à mesóclise

Clown sem sombra

A sensatez cármica...?

Como Deus dexistiu

Lago sem margem

O abstrato toque sensitivo da mente

Vestuário vê menino nu

O déjà vu amnéstico

Dor no ventre sem ânus

e

Uma sola sobre o desejo


E mais! Saiba como Deus, para provar que tudo é possível, se matou usando apenas uma gota do Oceano Pacífico, o que deu origem a um planeta onde a comunicação foi prescindida por seus atuais habitantes.

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13 de ago. de 2009

escrito à caneta

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deixo o sentido das palavras me guiarem,

ou me relaxo no sentir do seu abraço


o que poderia expressar um corpo, se tocasse delicado

um corpo outro,

feito de virtude e magia?


que, pela amizade, pode-se observar

sem tocar

analisar sem palavrear esperança.

sim! porque esperança anima o humor

mas a alma se cansa de tanta espera e logo adoece nostalgia


pode-se derramar lágrima,

envergonhar-se, depois rir e, em seguida, chorar novamente

mas aquele infante sorriso e aquela antiga admoestação permanecem

sentados na mesma pessoa

no banco

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29 de jul. de 2009

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O mundo todo foi transformado em morte muito viva; inquieta.

Insurge sobre a morada dos vivos,

Sobressai ao longo dos nexos um distúrbio angustiante; uma vontade de também ser morte, como as coisas e os movimentos — as abstrações enérgicas.

Padecer

para não mais querer

fenecer

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7 de jun. de 2009

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Réquiem


Está a um degrau de dar o primeiro passo para sempre.

O degrau em que pisa o lembra o seguinte. A sensação de nostalgia o faz memorar que já fez o que não fez; e, por causa do resíduo que não restou impregnado ao olfato, devaneia sobre as atitudes repetidas de outrora. E assim expande e encolhe os andares mnemônicos, pensando sobre si sendo ele próprio um pensamento.

Degrau imóvel o leva para cima com o mesmo movimento que o leva para baixo.

A vida era, quando criança. Obediente, seguia a voz da mãe no parque, para fugir do chicote do pai. Corria fazendo travessuras de gente pequena, gente que ainda não conheceu a cautela de homem grande. Não existia medo da vida, nem mesmo houvera percebido que vivia. Os momentos eram simples mas não simplórios. Crianças... Qualquer borboleta as diverte, batendo suas asas coloridas. Depois corria agitando seus bracinhos, dando upas! de alegria eufórica e afastando a borboleta que já descansava pousada em um galho seco.

Saboreia a visão calcada, primevo instante letárgico de uma série reticente.

A adolescência fora melindrosa e preenchida por dissonante alarde. Ocupava-se, noturnamente, quando todos iam dormir, em nada alcançar. Descobriu que jamais concluiria sua busca inexistencial, e que não havia pausa em seu cérebro, e que nada nunca atingiria. Fato. Desistiu do intento. E sonhou uma noite com um enorme pé que se agigantava sobre si, efetuando uma elevada e pesada passada.

Tudo está escrito no fogo. Vitupério do amanhã. Nunca chega o verdadeiro dia que a ciência não desvenda nem duvida.

A misericórdia por não ter lembrança de todas as coisas que lhe aconteceram até hoje o tem transformado em ser etéreo e insaciável. Alguns degraus da escada — constituída por apenas um degrau — são pulados em um passo mais amplo, outros, por tropeço de seu descaso (ou de seu caso com o ego), têm suas quinas feridas e traspassadas. Ora, não seria possível ferir o apoio físico sem oferecer perigo ao equilíbrio no qual se está tensionado. Em qual patamar ficou a sabedoria? Descer a escada não se pode: os degraus não hão mais. Sabe que, caso queira voltar, penetrará na escuridão do esquecimento onde o conhecimento ainda não ousou cosmogônico mergulho.

E fica para sempre a um passo do último degrau.

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3 de jun. de 2009

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Vozes da primavera

Joãozinho engatinha pela copa chacoalhando alguns brinquedos e balbuciando umas quase-palavras. Maria, sua mãe, prepara o almoço e cantarola enquanto apanha a cutela. Põe a mão sobre a tábua de carne e desfere golpe inesitante sobre o pulso. A mão semipendurada pelos nervos. O sangue espirrado na parede, nas faces, em Joãozinho, que começa um choro sem ar. Maria serra os tendões, sua mão treme em cima da tábua durante o processo. Então, atira a mão em Joãozinho gritando: aí está seu almoço!

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14 de mai. de 2009

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Comprei um caderno novo esta semana e comecei a escrever de trás para frente, começo pela última folha e vou até a primeira. Minha educação pedagógica me diz que tenho de saber por que faço isso. Mas não sei.
Penso, escrevo e levo a folha rascunhada para a direita. Riscar um caderno novo é como mergulhar no mar e sentir cada célula da pele se liquefazer, virar água salgada e se misturar ao oceano. A caneta toca a folha, a tinta escorre maculando o branco, inundando o vazio seco de letras molhadas, salubres e salobras. Carrego a página à direita porque este é o sentido gauche. Tudo deveria ir para lá. Em direita, os sentidos não são buscados, as dicotomias não existem, a política é una. Ninguém debate. Todos andam em fila indiana rumo à eterna direita. Letra ante letra, palavra após palavra, cada página movida para trás do caderno em que despejo minha imensidão destra.
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14 de mar. de 2009

Peña brava

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Hay una peña brava

aquí, en la costa,

el viento furibundo,

la sal del mar, la ira,

desde hace siempre, ahora

y ayer, y cada siglo

la atacaron:

tiene arrugas,

cavernas,

grietas, figuras, gradas,

mejillas de granito

y estalla el mar en la roca

amándola,

rompe el beso maligno,

relámpagos de espuma,

birlho de luna rabiosa.

Es una peña gris,

color de edad, austera,

infinita, cansada, poderosa.


Em dois mil e oito homenageei Fernando Pessoa, no Dia do Poeta — e meu também, pois nasci a catorze de março do século passado —, postando Aniversário, se bem que o poema é de Álvaro de Campos e até queria o contrário: o Pessoa fosse heterônimo do Campos. Deixando meus achômetros de lado, este ano escolhi um do Prêmio Nobel Pablo Neruda. Foi difícil a escolha e talvez acabe incluindo outro dele aqui, para desencargo de consciência. Em verdade, nem li tantos poemas dele assim, tenho um livro do dito cujo, presente da Renata (brigado, moça!). A edição é composta por dois livros póstumos do chileno, Defeitos escolhidos e 2000. Peña (hijo de puta! O Word com essa mania de correção fica tirando o til do ene.) brava faz parte de Defeitos escolhidos, que, aliás, me agradou bem mais do que 2000. O bem escrito poema me fascinou desde a primeira lida, deste modo: periplei, parecia, imageticamente, que lia Tolkien, ou uma ficção qualquer. A fotografia mental que faço logo no primeiro verso é a de um velho sentado em algum local numa praia deserta, observando o horizonte, com o viento furibundo agitando seus grisalhos cabelos e a camisa de botão, a qual não consigo definir uma cor, mas é clara. Enquanto isso, o mar fica molestando a potente pedra, que, pelo tempo, já deve estar acostumada a levar na cara umas boas porradas da molenga água. Se descermos mais um poucochinho (venero essa palavra) no poema-pedra, encontrar-nos-emos um verso só de cavernas, ali estão as imemoriais cavidades que se perdem terra adentro com suas gretas a esconder sabe-se lá quê; um onde esculpido pelo tempo. E o mar, símbolo de infinito e revolta com suas agitadas águas, continua a ferir as fendas da pedra, mas amando-a, beijando-a, até provocar relámpagos de espuma. E a lua e o meu velho, ambos também já têm cor de idade, assistem a tudo sem poder, e talvez querer, fazer nada. Introspectivo, o velho olha mas não vê. Raivosa, a lua, quem pode dizer?, brilha de ciúmes por não possuir um parceiro que a espanque e foda suas crateras solitárias.

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12 de mar. de 2009

Sabor maçã

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Factual mordida na fruta

Os dentes mesclados com a massa da maçã

E o caldo escorrente ao lado da boca

O líquido adocicado entre lábios

Gotas de mancha sobre a bermuda

A ferida na boca descuidada

Que entorpecente textura:

vermelha e branca

O sangue a massa o sumo



e u s e m e l a

palato e casca

mar e lua

espelhos de querenças

quem por quem?

reflexo de um fruto escamoso

(nunca eu, o gomo)

a boca da maçã com seus olhos

um outro céu inside

minha saliva mais sua visão

...co-incidências...

caninos no interior desse pomo

meu deus...!

e u s e m e u



...............Cnofusoã on epasço coático

Engodo imagético da descrença


...............Que se

Que me

...............Que te


Sem

............Vinha

Com

...........Meu


Quanta massa na boca!

Tal qual dentes na maçã?...............

Que tal vida sem sabor,

Como morte de uma dança?...............


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4 de fev. de 2009

Vertigem

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O relato digitado foi narrado a mim por um colega de faculdade que não só permitiu como também desejou a publicação desta história de acontecimentos imprevistos até mesmo para os dias de hoje.

Livre de toda ausência, Arcádio convivia com sua bela esposa, nomeada Teresa, há confortáveis cinco anos. Durante o período, a rotina de ambos foi costurada em tecido permanente, durável e necessário, como a lã. Arcádio despertava, olhava para o relógio analógico exatamente às 07:30, espreguiçava, para, às 09:00, secretariar o dia de outros funcionários de um fast-food do shopping local. A esposa permanecia em casa em companhia do melhor amigo do homem, de alcunha Félix, a cadela companheira de todos os dias. Esse caso, então, era a melhor amiga do homem. Às 18:00 Arcádio chegava a casa e durante a semana a existência do casal era preenchida majoritariamente por sexo. Este não era adornado de frases e gestos piegas ou românticos. Uma vez, Arcádio tirara sangue da boca dela. Com essa mão: ela pediu bate, ele bateu. Com tudo. Em cheio. O sangue dentro da boca, ela não o deixava escorrer, nem mesmo cuspiu, mas enquanto a penetração estava latente, o líquido viscoso borbulhava feito lava emergindo de fresta vulcânica. Com selvageria, era assim que os cônjuges era um casal. Pouco dialogavam, mesmo não era necessário. Apetecia às vezes um afago no cão, um comentário frívolo sobre fatos corriqueiros. Apesar de o carisma ser fator inútil para a relação do casal, por dentro, naquela região invisível que os filósofos chamam de alma, a necessidade do outro ocupava área precisa.

O que o subjuntivo colega quis que fosse contado começa adiante.

Desgraçadamente, Teresa saiu de casa para passear com Félix e faleceu. Se debaixo de uma carreta sua cabeça teve o último pensar ou se bala achada perdeu-se em sua nuca, nem eu nem o narrador do caso sabemos. Não nos foi descrito a causa mortis.

Findou-se que Arcádio passou a morar sozinho. Bem, nem tão. Havia Félix. Arcádio sofreu com a morte de sua esposa como qualquer ser humano. Marcou seu luto com silêncio, saudade, desesperança. Deitado na cama que agora era espaçosamente fúnebre, pensava nos momentos pretéritos com Teresa... Em dormindo, sonhou que caminhava por um labirinto feito de ruas e casas, como num bairro residencial, e era puxado por uma corrente atada a seu pescoço, como um cão. Ele era um cão. Viu que cada pessoa no labirinto era acompanhada de um cachorro, e este parecia farejar algo atrás das muitas portas. Assim, cada porta era saída específica para cada perdido presente. O nosso cachorro, i.e., Arcádio, farejou algo familiar no ar e perseguiu o olor que terminava numa casa dourada e cuja porta era dupla. Logo que seu portador a abriu, o cão-Arcádio entrou em um recinto holofotemente iluminado, recebendo ovação e palmas. O primeiro objeto que viu foi um microfone unido a um pedestal, foi quando pensou como iria falar/latir nele, se fosse preciso. Porém, ao olhar para si mesmo, observou que era humano de novo. Caminhou, avistou grande plateia feminina sentada e percebeu: o ambiente era um tanto conhecido. Estava no programa Porta da Esperança, com Sílvio Santos. Arcádio ia perguntar ao apresentador o que fazia ali, mas nesse ambiente quem faz as perguntas é o Sílvio — não é, Lombardi? Má’ oee, diga, Arcádio, quem botou esse nome em você, seu bisavô, ele estava de sacanagem, não estava? Não é um nome muito, certo? Nã-não, Síl... Você amava sua esposa, Arcádio? Sim, cla-claro, Sílvio. Então me diga, Arcádio, por que a deixou sair sozinha àquele dia? Você deveria cuidar melhor do que é seu, seu palerma! Lombardi, será que ele merece algum prêmio? Merece, patrão. Então vamos abrir as Portas da Esperança! As portas se abrem e eis que Teresa surge usando um longo vestido preto com um nada discreto decote. Arcádio vai a seu encontro, abraça-a, beija-a e antes de sentir pressente: os lábios dela se soltam na boca dele, definham. Sobe um inebriante cheiro de carniça. Antes de acordar assustado, ele ainda ouve Sílvio falar: É, Lombardi, você acertou, ele mereceu...

O último instante de sua vida ela estava com Félix. Com esse instantâneo de pensamento somado ao pesadelo da noite anterior, sua imaginação deu início a uma série de bizarrices imaginativas. Entre elas, pensou nas muitas religiões que habitam o Universo, e lembrou-se de uma com destaque: Espiritismo. E se a alma de Teresa encarnou em Félix? A raça da cadela era labrador. Arcádio resolveu testar sua espirituosa ideia chamando o animal e dando tapas em seu focinho. Félix reagiu da forma como qualquer animal domesticado responderia à “brincadeira” de seu dono, lambendo-o. Arcádio, em sua loucura, viu na atitude do animal um sinal de que era sua amada re-encarnada em Félix. Daí, começou a brincar com a cadela com peculiar fascínio, pulando na cama, correndo pelo quarto... Até se cansarem e deitarem. Dia seguinte, o homem desposou (sic!) a cadela em seu leito e, amiúde, passou a fazer sexo com ela todas as noites. Certa madrugada, Arcádio, insone, despejou sedativo no leite de Félix. Transou. Cortou a pele da coxa traseira do animal, e mastigou a carne até o osso e assim doravante até a morte de Félix.

Quem me contou o caso exerce a profissão de enfermeiro em um hospital psiquiátrico (pudera!), onde Arcádio permanece. Ele, o meu confidente, soube da história pela boca do próprio autor da façanha. Arcádio foi descoberto por seus vizinhos que sentiram o veemente odor pútrido de Félix. Eles contaram que ele estava deitado em seu leito, e vestia apenas uma cueca. A cadela... Bem, da cadela só havia a carcaça com restos de carne que provavelmente Arcádio não conseguira arrancar dos ossos.

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24 de jan. de 2009

Tomo de bolso

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Abre as páginas de um livro velho e antigo

e sente o perfume das traças aclamadas pelo grande público

Com mãos sufocadas no bolso, o Homem observa as aventuras

que poderia ter usufruído, não houvesse medo de arriscar

pisar fora da monotonia de um dia que já dura a vida


O personagem zomba do leitor

É a criatura logrando seu criador

Sendo mais do que ele sempre foi


O Homem não solta a capa dura do livro em sua mira sedenta

Ousa viver circunspecto

enquanto escreve poemas

mais valorativos que toda uma vida


Pela palavra,

o herói salva o mundo apocalíptico do Homem,

pelo cujo homem

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22 de jan. de 2009

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Como se soubesse que é bendita pelos enamorados, a lua sorria no céu negro acompanhada pelas estrelas que, uma a uma, resplandeciam. E sobre as folhas secas de uma castanheira qualquer, o casal altercava. Sobre sexo, ciúme, um pouco do de sempre. A menina aceita a explicação — desconfiada; Fernando aparenta ter saído de um túmulo, Brunela pensa, não quero outra discussão, a última se aproximou da linha imaginária do precipício que seria uma separação. Motivo: Brunela havia marcado um trabalho escolar de anatomia, a dois, com um menino de sua sala. Passional, Fernando não aceita, daí a briga. Após xingarem Deus e o mundo e insultarem o Diabo com seu próprio nome, cada um seguiu seu rumo, fadado e particular.

Mesmo depois de fazerem as pazes, Brunela não soube o que aconteceu com o namorado àquele dia. O próprio Fernando não tinha certeza. Ela pensava que o motivo da apatia sexual dele era a briga e esperava do tempo o remédio para a ferida. Porém as semanas passavam e Fernando estava cada dia mais taciturno, sua palidez assemelhava-se a de um vampiro e, isso ele não podia negar, havia emagrecido. A frequência com que os dois se viam diminuía do mesmo modo que o aspecto tétrico de Fernando aumentava. Às vezes, Brunela sentia uma inquietação no namorado como se ele quisesse lhe contar um segredo, mas ela não forçava nada, esperava o momento certo.

Fim de tarde, o sol se aproximava do horizonte e os dois caminhavam pela praia, o vento sacudia os cabelos de Brunela ao mesmo tempo em que a areia batia em suas pernas. Fernando começara a narrar sua história.

Disse que, quando saiu da casa de Brunela, à data do desentendimento, andou pela orla da praia bebendo até perder o domínio do corpo próprio e tombou-se ali mesmo devido à embriaguez e teve um sonho. Curioso é o fato de o sonho se passar no mesmo local em que cochilara. Nesta quimera, ele acorda em frente ao mar, a Lua Cheia ilumina a água baça e o silêncio inquietante o faz tremer. Somente o barulho das ondas ele escuta, quando outro som vem do mesmo local, como se a água fervesse. Então ele observa as borbulhas se moverem a sua direção. Seis anões carregam uma enorme concha rosada, eles parecem ígneos, pois toda a água ao redor deles ferve como se um vulcão estivesse surgindo. Param e depositam a concha sobre a areia, ela se abre e a única coisa que Fernando vê, a priori, em seu interior, são mechas de cabelo que parecem ter vida própria e se movimentam numa dança libidinosa. Depois se abrem, revelando sua origem. Uma mulher nua sai de seu abrigo calcário encarando Fernando que, movido por excitação, caminha languidamente alterado. Tudo que Fernando deseja é cair nas pernas daquela deusa e satisfazer sua concupiscência. E ela o sacia. Logo depois fala como cantasse:

Expulsa do Jardim fui
No Oceano há meu refúgio
A terra não me comporta
Traze a mim muitas mortas

De Eva já fui chamada
De Vênus, a enciumada,
Mas há já muito sou Lilit
Prima, e verdadeira Filha

Deveria continuar a história, mas me parece que ela terá seu ponto onde todas se encerram: no “fim” (já entenderão o porquê das aspas). Uma de minhas compreensões de contos, romances e poemas é a de que não se deve pôr final, mas sempre fomentá-los de exageros ou de faltas propositados que não demonstrem fim nem começo, contudo o modo de construção básico ou ilimitado, fantástico ou argumentativo... Talvez como um jogo de cartas em que não se lembre quais foram as primeiras da rodada e muito menos quem ganhará a partida, mas, conforme a baliza do cartear prosseguir sem certezas, a inexatidão do jogo o transforme em menos existencialista do que a aritmética planejada por cada jogador. E porisso mesmo mais emocionante e paradoxalmente racionalista.

Continuo a escrever aquilo que li outrora de algum filme; o que interpretei de um poema que nem me lembro, mas que se encontra arquivado sob a pátina de minha memória; de romances que me lembro da história, e não recordo nomes de personagens e nem do título. Prossigo o que não pode ser acabado, porque o início existe tão longínquo. Todos somos autores e poetas, decerto há os passivos; civilizadores de um mundo inacabado (ora, então construtores e destruidores de nosso mundo, o que o torna eterno); imaginadores de Deus e deuses. Há mais dentro do oculto do que no difuso. Consoante vamos implodindo nossa degradação, a criação irrompe em lágrimas catárticas, em risos esquizofrênicos ou em memórias que não comportam apenas uma qualidade, mas substantivos, neologismos, metonímias, metáforas...

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15 de jan. de 2009

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Último

a deus
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8 de jan. de 2009

Elias

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em ser rés tem de perder ser e merecer nem ser; querer nem ser-se e descer dez vezes rés: meter-se em pés descrentes que cessem de vez em pó; e mesmo que o medo de perder o ser em pó de pés descobertos mescle o ser com o resto podre pense que é somente o rés do resto do pus poroso e sopese o ser com o rés do ser que é pus que é póstumo que é sem ser que se segue sendo o pó do túmulo de nenhum defunto, mas de um profeta trasladado, de um defunto que nunca ocupou sua mesma casa, um ser que passou a não ser sem passar pelo não sendo. O ser que não era mito passou a ser. O rés que não era tudo passou a ser nada, nem tudo que vira mito se desnuda em pó ou vem de pá de lavrar palavra: funde-se ao infinito que é finito que é piso de Uni(r)verso mítico
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