31 de jan. de 2008

e. e. cummings

Um político é um bundão sobre o qual
se sentou tudo exceto um homem.

26 de jan. de 2008

Há dias que desejamos ficar sozinhos, eu quero estar todos os dias.
Sinto saudades do meu tempo de moleque; do tempo em que não me preocupava com meus sentimentos; tempo em que o importante era amar transitoriamente; tempo eterno em minha imaginação; tempo de mordidas agridoces, de perfumes palatinos, de amores instantâneos e de orgias lúdicas. Mas se até quem foi rei disse que não há nada de novo debaixo da noite estrelada quem sou eu para me orgulhar daqueles momentos eternizados em minha memória, e talvez só nela, na dos outros não.
A lembrança alheia não tem importância para ninguém, não quero saber o que está pensando, sinta apenas o que estou olhando e será feliz.

25 de jan. de 2008

Reinus

Rei

Avisto dois pequenos montes morenos de solo fértil
Como portal firmado à entrada do palácio.
Teus lírios têm perfume estrogênico
E me rendo aos teus odores.

Rainha

Deixa-me sentir por miríades de gerações
O néctar viril jorrar de teu viçoso rio.
Ó, meu rei, não tenho mais terra para tanto gozo.

Freedom

Geografia confusa a nossa, querida
Não sei bem onde ficam as fronteiras
Quando o limite é violado.

23 de jan. de 2008

À Emoção Que Nos Cega


A porta de vidro do meu quarto, que dá acesso a uma pequena varanda, fez um estralo esquisito, curioso é saber que a mesma é corrediça não podendo assim ser forçada pelo ímpeto do vento.
Havia acabado de fazer o meu lanche noturno quando me deitei. Era pouco mais de uma da manhã e o silêncio invadia meus pensamentos com imagens e sons claustrofóbicos, se é que imagem e som podem aceitar tal adjetivo. Não conseguia correlacionar àquelas troadas com as alucinações tétricas que me deixavam inquieto, e também não sentia coragem de me erguer da cama para examinar o “Corvo” que me assombrava.
Uma árvore balançava lá fora pela força da ventania, e meditei se acaso não eram pequenos galhos que se desprendiam dela e voavam à minha porta, entrementes, me lembrei que a planta estava muito longe de minha casa não havendo qualquer possibilidade de contato.
Então, lutei contra minha própria mente e contra os pensamentos que me sufocavam. Bem devagar, comecei a abrir os olhos. As pálpebras tinham o peso de Morfeu. O quarto estava escuro, porém, quando olhei para o lado em direção à porta, abaixo das escuras cortinas, uma luz cálida, vinda de um poste à rua, adentrava cerca de meio palmo o interior do aposento.
Continuei observando à expectativa de ver a sombra do infeliz ser que perturbava meu sono.
Dizem que o medo é uma das maiores fontes criadoras de Lendas e, àquela noite, eu senti que poderia criar uma.
Já quase cochilava olhando à porta quando uma sombra caminhou da esquerda para a direita, logo após fez o inverso. Meus olhos não queriam piscar, prendi o ar e observei atento.
Não sabia se dormia, talvez fosse um sonho, mas quem ou o quê dava origem ao vulto, não gerava mais barulho algum.
Tinha que me levantar e averiguar, era a única solução, mas isso partindo do pressuposto de um pragmático. Porém, quando se trata de um homem que em criança ouvira tantas estórias da carochinha; amante incondicional de filmes de terror; crente das dicotomias Céu e Inferno, Deus e Diabo; e aquela famosa frase: você nunca está sozinho, e me comprazia com tudo isso. A crença da existência de um universo paralelo é reconfortante, saber que este mundo não é o umbigo do Universo, muito mais.
Então, veja bem, eu não estava apenas com medo, mas, igualmente, curioso. Queria abrir as cortinas do meu quarto e encontrar o inesperado, o impossível, o sobrenatural.
O ruído parara havia já algum tempo. A sombra, porém, se ocultava e depois parecia flutuar.
Levantei-me, lento e silencioso como um gatuno, pé ante pé, a sombra parou de chofre. Continuei vagaroso em direção a ela e, com um movimento lépido, puxei a cortina e vi um toldo que estava mal colocado e o vendaval devia tê-lo feito descer um pouco de modo que ele balançava de um lado para o outro.

3 de jan. de 2008

Recomeço

Ele procurava em meio às esverdeadas colinas, cobertas por gramíneas, ora subia e olhava de cima do monte a avistar melhor todo aquele imenso campo, ora descia quando julgava ter encontrado o que procurava.
Ela ergueu os olhos para o azul celeste, fechou um pouco as pálpebras cansadas e observou o céu desejando encontrá-lo. Talvez esperasse ele descer como um cristo para salvar à humanidade, mas nada acontecia. Tudo era esperança. Nada daquilo fazia sentido, percebeu que não ia durar muito e a Raça estaria enfim extinta.
Buscou no marulho, na brisa e na vastidão do mar almejar o que era fundamental para a vivência de uma espécie que aprendeu a nadar como os peixes, voar como a águia, mas, agora, tudo isso era inútil.
Os dois se encontraram próximo ao rio, que descia sereno e constante sob e sobre a trilha pedregosa e bela, que a cada instante mais esbelto tornava-se.
O olhar vazio de um tocou o triste do outro.
Sem esperança, continuaram a essencial caça ao tesouro mais precioso que o Homem já conhecera. Subiam montanhas, entravam em igrejas, contando com o milagre, percorriam cidades inteiras, campos, serras e praias. Por todos os lugares onde passavam viam um número cada vez maior de animais, mas nenhuma pessoa.
Porém, nunca encontraram e este foi o fim da espécie que não soube aproveitar o dom supremo que havia herdado. Quem sabe o Criador transportou este fenômeno abstrato para um planeta longínquo no continuum espaço-tempo, quiçá encontrou criaturas que davam o devido valor que ele merece.
Jamais saberão onde, quando e como o Amor findou-se, mas agora não adianta mais.

1 de jan. de 2008

Palavras de Pórtico

"Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 'Navegar é preciso, viver não é preciso'.
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar".


Começou um novo ano
No calendário solar
E, como o maior Heterônimo,
O que mais desejo é criar.