17 de abr. de 2007

Clarisse


- Cansou-se deste mundo, Clarisse? Com aquelas pessoas te vilipendiando e chamando você de louca. Sendo falsas contigo, te humilhando por não compreenderem o que você faz quando se sente só e por que faz. Não querem que você ouça estas músicas e leia estes livros porque eles lhe farão mal, mas o que elas não entendem é que isso foi tudo o que restou para você nesta terra. Não se dê por vencida, reaja! Elas desejam te transformar em mais uma cópia anatemática. Você se lembra daquele menino? Dizem que foi internado por falta de atenção dos amigos, parentes e das lembranças dos sonhos que se mostraram utópicos, não deixe que aconteça o mesmo com você, pois sonhos são apenas uma vontade de ter o que desejamos e, quando você realiza seu sonho, tem que preencher o espaço dele com outro, isso nunca pára. E aquela sua amiga? Nem se sabe como ela partiu.
- À noite, Clarisse, pode-se ver o medo estampado nas faces das pessoas gerando racismo e preconceito, livre-se disso também. Não tenha medo. Venha comigo. Eu sou a sua morte e lhe quero bem.
- Esta violência exacerbada contra meninas e mulheres é a conseqüência da verdade ter sido transtornada. E o que é a verdade? Um acordo entre mentirosos, nada mais.

Quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito, Clarisse sente que o anjo triste está ao seu lado. Deitada num canto do banheiro ela paga sua passagem só de ida rumo ao desconhecido, o preço são dois cortes que ela faz nos pulsos, não sente dor, apenas observa o sangue escorrendo para o ralo, sua visão começa a embaçar, o corpo começa a perder a rigidez e ela cai num sono profundo. Clarisse agora voa pelo caminho mais bonito.