23 de jan. de 2008

À Emoção Que Nos Cega


A porta de vidro do meu quarto, que dá acesso a uma pequena varanda, fez um estralo esquisito, curioso é saber que a mesma é corrediça não podendo assim ser forçada pelo ímpeto do vento.
Havia acabado de fazer o meu lanche noturno quando me deitei. Era pouco mais de uma da manhã e o silêncio invadia meus pensamentos com imagens e sons claustrofóbicos, se é que imagem e som podem aceitar tal adjetivo. Não conseguia correlacionar àquelas troadas com as alucinações tétricas que me deixavam inquieto, e também não sentia coragem de me erguer da cama para examinar o “Corvo” que me assombrava.
Uma árvore balançava lá fora pela força da ventania, e meditei se acaso não eram pequenos galhos que se desprendiam dela e voavam à minha porta, entrementes, me lembrei que a planta estava muito longe de minha casa não havendo qualquer possibilidade de contato.
Então, lutei contra minha própria mente e contra os pensamentos que me sufocavam. Bem devagar, comecei a abrir os olhos. As pálpebras tinham o peso de Morfeu. O quarto estava escuro, porém, quando olhei para o lado em direção à porta, abaixo das escuras cortinas, uma luz cálida, vinda de um poste à rua, adentrava cerca de meio palmo o interior do aposento.
Continuei observando à expectativa de ver a sombra do infeliz ser que perturbava meu sono.
Dizem que o medo é uma das maiores fontes criadoras de Lendas e, àquela noite, eu senti que poderia criar uma.
Já quase cochilava olhando à porta quando uma sombra caminhou da esquerda para a direita, logo após fez o inverso. Meus olhos não queriam piscar, prendi o ar e observei atento.
Não sabia se dormia, talvez fosse um sonho, mas quem ou o quê dava origem ao vulto, não gerava mais barulho algum.
Tinha que me levantar e averiguar, era a única solução, mas isso partindo do pressuposto de um pragmático. Porém, quando se trata de um homem que em criança ouvira tantas estórias da carochinha; amante incondicional de filmes de terror; crente das dicotomias Céu e Inferno, Deus e Diabo; e aquela famosa frase: você nunca está sozinho, e me comprazia com tudo isso. A crença da existência de um universo paralelo é reconfortante, saber que este mundo não é o umbigo do Universo, muito mais.
Então, veja bem, eu não estava apenas com medo, mas, igualmente, curioso. Queria abrir as cortinas do meu quarto e encontrar o inesperado, o impossível, o sobrenatural.
O ruído parara havia já algum tempo. A sombra, porém, se ocultava e depois parecia flutuar.
Levantei-me, lento e silencioso como um gatuno, pé ante pé, a sombra parou de chofre. Continuei vagaroso em direção a ela e, com um movimento lépido, puxei a cortina e vi um toldo que estava mal colocado e o vendaval devia tê-lo feito descer um pouco de modo que ele balançava de um lado para o outro.

3 comentários:

Hanne Mendes disse...

O Medo.
O medo é a minha única barreira natural.
Lembrei-me muito de mim mesma ao ler o conto, das minhas noites...

Abraço.

Josely Bittencourt disse...

Coisas das noites inquietas, noite passada tava assim, mas nem uma sombra, nem um barulho sequer, só os mesmos ruídos de sempre: carros, vizinhos chatos, o bingo de frente a minha casa, nada pra alimentar a imaginação, aliás, nutrientes para minha fértil imaginação ñ faltam, mas desse medo específico sinto falta às vz... uma saco isso viu!
Mas vc q curte esse estilo já leu Frankenstein de Mary Shelley?
O gênero é bem explorado, mas Frankenstein é excelência, o texto integral, ñ as adaptações...
Sem contar q o momento em q surgiu a idéia de se escrever um romance de teor gótico foi cercado de situações interessantes entre Byron, Percy Shelley, Mary e ainda John Polidori, forçados pelas chuvas de verão a usar mais a imaginação, trancados em casa deu no q deu...é o q contam né. rs

bJô

Mésmero disse...

Li inda não.

Gosto muito da literatura de Tolkien.

Já li Poe e gosto muito de Clive Barker e Stephen King, mas esses dois são contemporâneos.