Penso, escrevo e levo a folha rascunhada para a direita. Riscar um caderno novo é como mergulhar no mar e sentir cada célula da pele se liquefazer, virar água salgada e se misturar ao oceano. A caneta toca a folha, a tinta escorre maculando o branco, inundando o vazio seco de letras molhadas, salubres e salobras. Carrego a página à direita porque este é o sentido gauche. Tudo deveria ir para lá. Em direita, os sentidos não são buscados, as dicotomias não existem, a política é una. Ninguém debate. Todos andam em fila indiana rumo à eterna direita. Letra ante letra, palavra após palavra, cada página movida para trás do caderno em que despejo minha imensidão destra.
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3 comentários:
Comprar um caderno novo é sempre muito aliciante para o começo da escrita. Essa ideia de começar de trás para a frente... interessante... Gostei do texto.
Um abraço
Leio seu texto lembrando de minha esposa.
Ela tem tentado me ensinar a ler revistas no sentido inverso, avaliar sempre antes de entrar em uma fila, buscar, avaliar o real sentido e não assumir posturas automáticas (não ser um autômata).
Tento ser isso na minha poesia.
Obrigado por trazer esse tema em seu texto.
Grande abraço,
Jorge Elias
É difícil não ser um rôbo nesta sociedade, mas vale a pena tentar mesmo.
Quanto a ler de trás pra frente, faço isso com certa frequência.
Mas o que seria "avaliar antes de entrar em uma fila"?
Abraços
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